Senil solidão.



Sentirei saudade quando me faltar
o que em outrora parecia supérfluo.

Sentirei medo quando me faltar
quem hoje me acalanta.
Sentirei melancolia
quando lembrar das minhas
antigas alegrias.
Sentirei dor quando lembrar
que há tempos eu já era velha,
mas ainda era criança.

Com o passar do tempo
poderei receber a visita
de um amigo indesejado,
aliás, como é abusado
aquele alemão safado!
Ele sempre chega sem avisar,
além de nunca bater à porta,
é um mal-educado de ofício;
esse é o Sr. Alzheimer,
um chato doidivanas que quer sempre
levar-me para o hospício.

Ele sempre chega pra ficar,
nunca parte,
nunca mesmo!
É um amor insano,
um grude cotidiano,
ô sujeitinho tirano!

Sempre que ele chega
eu recordo das paixões
da minha mocidade,
pois com ele eu perco todos
os meus sentidos,
perco as forças,
esqueço do mundo,
esqueço de tudo.

E antes que eu me esqueça,
gostaria de deixar um recado:

Quando não mais ouvirmos,
sentiremos falta da música.
Quando não mais andarmos,
sentiremos falta da dança.
Quando nos silenciarmos de vez,
sentiremos falta dos gritos
que dávamos para aliviar
a falta de sensatez.
E quando por fim, nos faltar a razão,
e chegar a hora da senil solidão,
não sentiremos falta de mais nada,
pois todas as lembranças serão apagadas
e todos os sentimentos
serão extintos do coração.

Bruno Rico.

Eis um reflexo do processo "evolutivo" do ser humano. 

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