Nada mais me serve.


Meu chapéu não serve mais para
Abrandar a fúria do sol em minha face.

Minha fé já não me salva
Da nuvem pessimista que paira sobre mim
Parecendo querer molhar-me com as águas frias da solidão.

A justiça dos homens já não me parece mais necessária,
Tendo em vista que ela é totalmente precária,
E a justiça divina também não me apetece,
Pois só vejo benção bater na porta de quem não merece.

O calçado que era o meu preferido
Hoje não me serve mais
E vive em baixo da cama,
Acuado, desbotado e escondido.

A roupa que eu mais gostava
Parece não gostar mais de mim,
A ponto de negar-se a acolher o meu corpo,
Antes envolto em suas linhas de cetim.

A mulher que ontem regava-me com amor,
Hoje deixou murchar a flor que lhe dava valor,
Dando lugar a um jardim
Que nunca mais germinou com o velho vigor.

A bandeira que antes eu defendia,
E tremulava com pujança,
Hoje está rasgada e jogada no porão,
Refletindo o retrato mais fiel do meu mundo sem esperança.
Afinal, nada mais me serve,
Nem mesmo os meus sonhos de criança.

Bruno Rico.


Eis o retrato pessimista do reflexo turvo da vida. Fazia tempos que não escrevia com tanta melancolia e desesperança, para um poeta altamente crítico isso é sempre bom, sinal de que o tino de esmiuçar o que poucos preocupam-se em pensar não se perdeu.

As linhas acima representam a mais pura arte, a arte de se colocar no corpo do mais inútil dos homens e fazer com que tamanha inutilidade seja cuspida em poesia.
A minha poesia muitas vezes se consiste em viajar e interpretar um mundo que nem sempre é o meu, e o escrito “Nada mais me serve” é mais um desses, afinal, eu sequer uso chapéu.




Coisas simples.

Quando estou com você
Vejo que a felicidade faz morada nas coisas simples.
Quando estou com você vejo
Que ainda não criaram uma frase
Que valha mais do que o "eu te amo",
Pois quando criarem tal frase,
Será esta que eu falarei
Toda vez depois de respirar.

E por falar em respirar...
Teu ar me impulsiona
A voar para o infinito de um universo
Que antes eu desconhecia, mas que aprendi a admirar
Através das suas retinas,
Que quando me fitam
Refletem a luz de um homem totalmente apaixonado
Que é capaz de comprar um barco
Para velejar e dar a volta ao mundo,
Só para depois voltar
E poder dizer com toda veemência,
Que não existe mulher melhor do que você.

Mas eu não preciso ir aos quatro quantos do mundo
Para saber que o meu mundo é você.

Aliás, eu não preciso de nada muito complexo
Para mostrar que te amo,
E para que você entenda que a minha vida
Sem ti já não tem mais nexo.

Você me mostrou que ao seu lado
A felicidade mora nas coisas simples,
Bem simples.


Bruno Rico. 

Dedicado a ela.

Peixes cegos.

Imagine o mundo como um imenso mar.
Imagine a civilização como
Uma imensidão de peixes.

Temos assim um cardume cego
Navegando num mar imundo.
Cardume esse, que além de cego,
Apresenta peixes que
Ainda nadam sem rumo.

O rumo que era pra ser traçado
É totalmente ignorado.
O nado que era pra ser diversificado
É totalmente sincronizado.
Todos agem em grau de igualdade
E nadam igualmente rumo ao nada.

Sendo assim...
Todos morrerão
Mordendo o mesmo anzol.

Bruno Rico.