Efeméride da ilusão.


Eis aqui o Natal.
Eis aqui o irracional
De uma data tão especial.
Eis aqui o sentimento
Em forma de capital.
Eis a hipocrisia,
A demagogia,
As palavras pronunciadas com heresia.

Eis a efeméride da ilusão.
Seja você cristão ou não.
Eis o profano pronunciando votos de felicidades.
Eis o plebeu em forma de burguês
Vivendo sonhos de insensatez
Graças a um salário aditivado
Que recebera no fim mês.
Eis o ateu falando bem de Deus.
Eis o cristão se embriagando
Em nome desse mesmo Deus.

Eis os que mal se falam
Mas agora se abraçam e se confraternizam
Celebrando a natalina falsidade.

Eis os religiosos mundanos
Que remetem-se a atos insanos
De um natal profano.

Eis a felicidade da criança,
Mesmo que ilusória,
Ardilosa e fantasiosa.

Ao menos isso!
Mas será só isso?

Eis de fato a redenção.
O momento é mágico
Mas a real magia se perde
Em presentes sem expressão
Laçados a enganação.

O ator principal
Está travestido de vermelho
Enquanto o aniversariante está de escanteio.
Creio eu, nada satisfeito
Com a festa que armaram pra ele.

BrunoricO.

Apenas introspecções.

Eis me aqui
Inoportuno comigo mesmo.
Escrevendo a esmo
Palavras sem forma
Que se formam diante da retina
Desgastada pela labuta do dia-a-dia.

Eis me aqui esperando o inesperado.
Tentando utopicamente mudar o imutável.

Nos sonhos que sonho em pé
Saboreio o veneno da ilusão.
Nos sonhos que sonho deitado
Saboreio o veneno da incompreensão.
Quem vai entender o que sonhei dormindo?
Quem vai se iludir com as idéias
Que sonhei acordado?

Prefiro pensar que minhas idéias
Não são para esse mundo.
Ou melhor,
Prefiro pensar que minhas idéias
Não são dignas desse mundo.

Minha mente ferve
Diante da frieza humana.
Em contrapartida,
Minha alma congela diante
Da febre do ego.
Febre que assola mentes peregrinas
Que caminham diante de cubos
Coloridos de telas planas e sons estéreos.
Pobres acéfalos da tecnologia!

Um dia a bomba vai explodir
E todos irão deixar de existir.
Um dia os simpáticos
Não mais precisarão fazer média para viver.
Um dia toda a dor terá fim.
Um dia toda palavra será ouvida e sentida.
Um dia o dia terá fim e a noite será eterna.

Loucuras?
Não!
Apenas introspecções.


BrunoricO.

Baú de criança.


Eis a solução para minha inquietante aflição:
Abrirei meu baú de estimação.

Quando criança o guardei
Com ternura, prometi somente
Abri-lo quando fosse um grande homem
Tomado por bravura.
Confesso que não sou o herói
Que esperava ser quando não tinha herói algum,
Hoje sou apenas mais um;
Um ser com medo e cheio de segredos.

Em meu pequeno baú
Guardei meus grandes pesadelos;
Só os guardei porque não queria
Carregá-los comigo,
Mas nem todos couberam no fundo,
Alguns insistiram em me acompanhar pelo mundo
E sem ter onde guardá-los
Convivi com eles, e por eles mudei o meu rumo.

Hoje vejo que me tornei um medroso.
Cresci e virei moço,
Mas em meu rosto,
Já calejado pelo tempo,
Só carrego desgosto.

Antes não tivesse criado tal baú.
Antes não tivesse guardado
Meus medos em uma caixa de madeira.
Antes tivesse enfrentado todas essas besteiras.

Eu sei que nunca é tarde para se encorajar,
Mas também nunca é cedo para se perder o medo.

Irei abrir de uma vez por todas
O meu baú de criança,
Só assim serei de uma vez por todas
Livre das minhas velhas e impiedosas lembranças.

Afinal, pra que guardar o que não presta?

BrunoricO.