Baú de criança.


Eis a solução para minha inquietante aflição:
Abrirei meu baú de estimação.

Quando criança o guardei
Com ternura, prometi somente
Abri-lo quando fosse um grande homem
Tomado por bravura.
Confesso que não sou o herói
Que esperava ser quando não tinha herói algum,
Hoje sou apenas mais um;
Um ser com medo e cheio de segredos.

Em meu pequeno baú
Guardei meus grandes pesadelos;
Só os guardei porque não queria
Carregá-los comigo,
Mas nem todos couberam no fundo,
Alguns insistiram em me acompanhar pelo mundo
E sem ter onde guardá-los
Convivi com eles, e por eles mudei o meu rumo.

Hoje vejo que me tornei um medroso.
Cresci e virei moço,
Mas em meu rosto,
Já calejado pelo tempo,
Só carrego desgosto.

Antes não tivesse criado tal baú.
Antes não tivesse guardado
Meus medos em uma caixa de madeira.
Antes tivesse enfrentado todas essas besteiras.

Eu sei que nunca é tarde para se encorajar,
Mas também nunca é cedo para se perder o medo.

Irei abrir de uma vez por todas
O meu baú de criança,
Só assim serei de uma vez por todas
Livre das minhas velhas e impiedosas lembranças.

Afinal, pra que guardar o que não presta?

BrunoricO.

0 comentários:

Postar um comentário