O novo envelheceu.


Pegarei o chapéu de palha
Que não tenho,
Colocarei na cabeça,
E seguirei em busca de
Um velho caminho,
Pois o novo já envelheceu.

Caminharei por trilhas de pedra,
Com vestígios de relva.
Sentarei à beira-mar
Para ver o sol raiar,
E depois irei apreciar
A gigante lua
Em seu mais belo desabrochar.
Poderei fazer isso por
Dias e noites sem cessar,
Mas será sempre o mesmo sol,
E será sempre a mesma lua,
Ora lua nova, ora lua nua.

Desiludido...
Voltarei a caminhar na rua,
E reencontrarei
Uma velha nova aventura:
Encontrar algo novo de fato,
Que me fortaleça
E me reconstrua.

Mas não possuo mais esperança.
Para dizer a verdade,
Até ter esperança já me cansa.

O que era avançado retrocedeu.
Quem dizia me amar,
Hoje diz mais mentiras
Que um pastor ateu.
Quem se intitulava revolucionário
Infelizmente já morreu.
E até quem quebrou espelhos,
Hoje tem mais sorte do que eu.
E o pior disso tudo:
Tudo que era novo
Já apodreceu.

Só me resta jogar fora
Meu chapéu de palha,
Que parece-me ajudar,
Mas na verdade me atrapalha.
E recolher-me por fim,
Em minha velha e inseparável mortalha.

BrunoricO.

Desordem e regresso.


As rajadas estridentes
Rasgam o céu fosco,
De poucas estrelas.

Hoje o brilho está
Na ponta do fuzil.
É a rebelião que o país
Fingiu que não viu,
Mas mesmo assim
Ela emergiu.

Cordeiros foram jogados,
Sem qualquer tipo de seleção,
Num enorme e fétido covil,
E feras ardilosas foram
Relançadas a candidatura
Da presidência do Brasil.
Pasmem:
Ainda teve gente que aplaudiu.

Mas em plena luz do dia!
Grita a velha senhora,
Depois de ter sido assaltada
Por um delinquente juvenil.
Mas oras, foi essa mesma
Senhora, que a candidatura
Da presidência,
Sordidamente aplaudiu.

Que ironia do destino,
Quem cria o monstro
Se diz vitimizado,
Mas o menor abandonado
É tratado como culpado,
E ainda é apontado
E execrado como o pior
Dos condenados.

Êta povo desbaratado,
Hipócritas que entregam
O seu país a qualquer
Engravatado acanalhado,
Ou quando não,
A qualquer burguês degenerado.
Gerando assim,
A revolta do derrotado
E a ira do desafortunado.

Mas quem será o próximo alvejado
Nessa terra que vive em guerra?
E uma guerra onde só
Encontramos derrotados.
Quando as pessoas se
Conscientizarão que
O reflexo do espelho
Está menos para inocente
E muito mais para culpado?
Quando a polícia
Deixará de ser o braço
Sujo do Estado?

Precisamos de um novo
Operário barbado,
De animo renovado,
Mas que esse, seja um pouco
Menos dissimulado.

O coração de muitos já está petrificado,
A esperança já foi lema de bandeira,
Hoje, não passa de passado.

BrunoricO.

Só e só!


Na companhia
De sons emudecidos
Comunico-me
Comigo mesmo,
Respeitando o silêncio
Imposto pelo ser
Oposto que não
Se faz presente.

Caminhando em forma de nó
Vou sonhando só
E evoluindo de ré
Em meu mundo sem fé.

Ao caminhar
Ouço somente os passos
De um andar
Mais do que familiar.
Formo comigo mesmo
Um casal sem par
E um relacionamento
Egocêntrico mais do que peculiar.

Amo-me como
Jamais amaria outro ser.
Sonho em ser o que sou
E não com o que nunca
Poderia ser ou ter.
Abandono-me
Quando esqueço
De mim e penso em ser
O que não preciso ser,
Isso ocorre em momentos
Em que me escapa a lucidez,
Pura insensatez!

Não sei pra quê.
Não sei por que
As pessoas choram por pessoas.
Se a pessoa por que choras
Não passa de um personagem
Sem bagagem, sem alma
E sem coragem.

Prossigo na estrada singular,
Sempre me escondendo
Das companhias que insistem
Em me encontrar, com o intuito
De nada me acrescentar.

BrunoricO.

Insanidade visceral.


A vida é uma relatividade
Com ares de bestialidade.
Talvez venhamos a achar
Significado na falta de realidade
Que dia-a-dia nos invade,
Ou venhamos a nos conformar
Com a rotina da uniformidade.

Somos fruto da imortalidade
Em sua imunda continuidade.
Somos fãs da mediocridade
E avessos a simplicidade.
Somos apegados a mutabilidade,
Mas mudamos apenas
Para saciar nossa egocêntrica vaidade.

BrunoricO.