Rio
de Janeiro, Barra da Tijuca.
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Pega ladrão!
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Atira no pé desse desgraçado!
Um
policial atira em um bandido desarmado, e sem saber que havia sido filmado diz
aos jornalistas que a ação foi um auto de resistência, pois a sua viatura
estava sendo alvejada pelos meliantes, e em revide as injustas agressões os policiais acabaram ferindo a
perna do bandido.
Até
aí seria mais um relato normal da polícia carioca visto como um simples
trabalho pela sociedade. A face do policial era de gente que estava falando a
verdade, as palavras saíram polidas para que tudo corresse da melhor forma possível, ou
seja, estava tudo certo. A não ser por um cinegrafista amador que filmou toda a
ação e fez cair por terra todo o discurso bonito do policial.
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Maldito cinegrafista! – devem ter ditos enfurecidos os meganhas representantes da lei.
O
tiro no pé foi dado na covardia, a vítima estava desarmada em um matagal.
Mas
eu confesso que isso não foi o que mais me assustou, até porque quem mora em
favela sabe que isso é rotineiro e infelizmente as câmeras indiscretas não
estão em todo o lugar, principalmente dentro de uma favela.
O que mais me revoltou e indignou foi a desfaçatez do senhor fardado, mentindo na cara de pau para toda uma sociedade.
O que mais me revoltou e indignou foi a desfaçatez do senhor fardado, mentindo na cara de pau para toda uma sociedade.
Com
tudo isso eu nem preciso dizer que essa polícia é fundamentada na mentira, e
ainda tem gente que defende isso. Ouvi e li diversos comentários falando que o
policial era um herói, que o tiro tinha que ter sido dado na cabeça, e por aí vai... Beleza,
que os cidadãos ditos de bem, querem que todos os bandidos (pobres) sejam mortos e excluídos da
sociedade isso eu já sei faz tempo, mas é mais do que inadmissível uma sociedade que
hipocritamente se pergunta o porquê de tanta violência, não ver gravidade nas
declarações mentirosas de um policial. Isso é o princípio do fim.
É
bom que se diga que este texto não está sendo escrito com o intuito de defender
bandido (longe disso). Tal crônica é apenas uma opinião exposta por um mero
mortal em repúdio a atitude de alguns meliantes que são pagos apenas para fazer
o seu dever e não o fazem com idoneidade.
Nessa
hora bocas demagogas vociferam velhas falácias:
“Ah, mas o salário de policial é pouco, eles ganham menos do que
deveriam". Pois bem, eu sei, mas todo mundo que faz o concurso já entra sabendo
quanto vai ganhar.
Nossa! Agora
que eu reparei que o termo “bandido” está meio sem foco nesse texto, afinal de
contas, QUEM ERA O BANDIDO?
Para
que as coisas não fiquem mais confusas do que já estão, precisarei de outro
adjetivo para diferenciar os policiais dos seus oponentes.
Eu
poderia chamar o rival da polícia de ladrão, mas a polícia também rouba; eu
poderia chamar o rival da polícia de traficantes, mas a polícia do Rio também
trafica, tanto armas quanto drogas; e eu também poderia chamá-los de meliantes
(termo que os homens de farda gostam tanto de proferir), mas também não teria
efeito, pois meliante é sinônimo de canalha, marginal, biltre, e por aí vai,
mas também existem policiais que são isso tudo, ainda mais no vídeo que motivou
esse texto. Então fica meio complicado para mim como escritor usar um termo que
diferencie os policiais dos pretinhos de bermuda e sem camisa que são expostos
no final do vídeo. Então é melhor deixar assim mesmo, sem definição, ao longo
do texto eu vou dando o meu jeito para separar esse povo.
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Mas que merda de direitos humanos que só defende bandido, tem que matar todos
esses filhos da puta mesmo. – gritou a sociedade, revoltada com a mídia que
caiu em cima da polícia.
O
engraçado, ou no mínimo curioso, é que essa mesma sociedade brasileira que fala
que bandido não merece segunda chance e coisa e tal, é a mesma que se esquece
em questão de anos (ou até meses) das falcatruas de alguns políticos. Como se
não bastasse, essa mesma sociedade revoltada com o banditismo que as ronda,
também coloca um Collor no Senado, também vota novamente em corruptos
comprovados, e por aí vai. Sinceramente, não consigo dar credibilidade para o
povo brasileiro. São dois pesos e duas medidas nessa terra descoberta por Cabral, os bandidos são mais bandidos
quando não estão bem trajados e possuem pele escura. E por falar nisso...
Aproveitando
o ensejo eu gostaria de pedir para os policiais que gostam de atirar em pé de
criminoso, para que o mesmo fosse feito contra os agressores do Vítor Suarez
Cunha, um herói contemporâneo, desses raros, bem raros mesmo, que teve sua vida
mudada após defender um mendigo, e posteriormente ser agredido por isso, pois
certamente os agressores achavam que mendigo não era gente.
Vítor foi
agredido no dia 2 de fevereiro de 2012. Ele teve afundamento na testa e na
região dos olhos. Os médicos tiveram que implantar 63 pinos no rosto do jovem,
além de membrana protetora e enxerto ósseo. E mesmo com todas essas
barbaridades, recentemente um senhor juiz alegou que não há provas que comprovem
a intenção de matar, e decretou a liberdade dos agressores do Vítor. Por isso que eu gostaria de
pedir justiça para os “honrados” justiceiros de farda, gostaria de ver se a mão
terá o mesmo peso tanto para os pretinhos de bermuda e sem camisa, quanto para
os playboys do condomínio, afinal, bandido é bandido. Ou eu estou errado?
Enquanto
a sociedade achar que uma arma mata mais do que uma caneta na mão de uma
autoridade do poder Executivo, Legislativo ou Judiciário, as coisas nunca irão
mudar. Enquanto os bandidos forem mais bandidos por conta de sua classe social
ou sua cor, as coisas também não irão mudar. E enquanto uma sociedade achar
normal as mentiras de um policial, em rede nacional, aí é que as coisas não
irão mudar mesmo.
Agora
vejam atentamente ao vídeo que motivou esse texto, e me digam sinceramente, QUEM
ERA O BANDIDO?
Para assistir ao vídeo clique abaixo:
Bruno Rico.
Aproveite também para assinar a petição que irá pedir uma nova análise da Justiça no processo de Vítor Suarez, o estudante que quase foi morto por defender um morador de rua, e que teve os seus cinco agressores isentos de qualquer punição.
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