Sem cruz.




Cada vez eu faço menos o sinal da cruz,
não, não me sinto mais protegida por isso.
Famigerada cruz.
Cruz minha que ninguém quer carregar,
dor minha que todos querem zombar,
carne minha que todos querem açoitar.

Tirei até a medalhinha do peito,
vi que não fazia efeito.
Ela só pesa,
não mais do que a que carrego
todo dia sobre as costas.
Na verdade tudo é muito pesado.

A saudade me pesa,
a falta do sorriso que já se foi,
também me pesa,
minha rotina parece um grilhão
que se arrasta e me desgasta,
tamanho é o peso.

Mas o pior é o peso do silêncio,
silêncio da alma,
silêncio que apesar de ser quieto,
não me acalma,
silêncio que me faz
gritar todo dia por dentro.
É por isso que eu não quero mais saber de cruz,
embora não consiga descer dela. 

Bruno Rico.

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