Procura-se o futuro.

Agora é presente.
Não, agora é passado.
Os segundos que passaram não voltam mais.
O último suspiro dado já é passado.
O presente existe.
O passado existiu.
Mas e o futuro, onde está?
Ele não está.
Ele nunca esteve.
Ele nunca veio,
E se veio já se foi.
Virou passado.
Aliás, temos lembranças do passado,
Mas nunca do futuro.
Do futuro temos medos e aflições,
Expectativas e suposições.
O futuro é uma conversão do presente,
É um tempo ausente e inexistente.
Quem se aflige pelo futuro
Se aflige pelo nada.
Quem vive o futuro morre no presente.
E quem morre no presente
Não vive em tempo algum,
Talvez no passado.
Mas de que adianta viver
De passado ou no passado?
De que adianta viver de futuro ou no futuro?
Talvez a resposta venha amanhã.
Talvez o futuro seja melhor amanhã.
Talvez.


BrunoricO.

Que assim seja.

Que o "assim seja",
Seja finito assim como
O "seja como for"
Não se transforme
Em conformidade
De um ser sem valor.

Que as aceitações
Não sejam vagas
E sem motivos.
E que a mesma aceitação
Não seja em vão,
Respeite a razão e que
Com a emoção não entre
Em conflito.

É preciso ser sucinto
Nas respostas.
É preciso aprender a respeitar
Os verdadeiros desejos do coração
Diferenciando o sim do não.
Pois nem toda resposta
Positiva tem um bom motivo,
E nem toda negação
É negada com verdade.
Por isso é preciso
Agir sempre com sinceridade,
Seja no negativismo,
Seja na positividade.

Negativo é o que pensa
Como um todo
E positivo é o que pensa
Por todos.

É preciso que os seres coletivos
Pensem por si só,
E que nessa jornada
Não vivam só,
Sem coletividade.

É preciso que os humanos
Pensem como uno
E não como humanidade.
Pois não é justo
Julgar sem analisar.
Não é correto
Analisar sem pensar.
E não é viável
Pensar sem questionar.
Questione o mundo.
Duvide de tudo.
Se preciso mude o rumo.
Mas não aceite
Inerte e calado
O "que assim seja".
Pois quem deseja mudança
E evolução precisa ter ação.
Já que corpo sem reação
Não gera revolução.

E que assim seja!


BrunoricO.

Mandrião.

Queria correr faltou-me perna.
Queria subir faltou vontade.
Queria pular e faltou-me tudo,
Inclusive coragem.

Sinto vontade de nada fazer,
Inclusive falta-me vontade
Até mesmo de viver.
Mas também sinto preguiça de morrer.

Pelo visto não me resta nada a fazer
A não ser nada fazer.

E se não tenho o que fazer,
Nada farei.

BrunoricO.

Intrépido poeta.

Os destemidos seres comuns
Evoluem a poeta.
Pois quem tem medo
Não se faz poeta.
E quem se faz poeta
Deixa seus medos
Em folhas de papel
Em forma de poesia
Para curar a avaria.

O intrépido poeta
Transforma tudo em verso
Com a mais pura maestria.
Do amor ao desamor,
Da primavera da mais linda flor.
Do choro a alegria
Tudo vira poesia.

Intrépido poeta é
O que declama solitário e sem medo
O seu sarau de introspecções.

Ser intrépido é superar
Os medos.
E Ser poeta é pô-los no papel.


BrunoricO.

Confissões de um palhaço.



Apresento-me no palco da ilusão.
Aqui sou o maior anfitrião da solidão.
Daqui vejo os inúmeros
Espectadores do picadeiro
De angústias e aflições.

Em meu rosto largo
Carrego as impurezas do mundo
Em forma de alegria.
Engano os já enganados
Desse mundo desviado.
Ratifico nos risos infantis
Minha profissão de palhaço.

Minha verdadeira arte
Consiste em sorrir na tristeza
E chorar na alegria.
E isso eu faço com grande maestria.
Talento de criança,
Mamãe já dizia.

Em minha face
Trago a divina falsidade.
Que de fato é,
E sempre será o maior talento
Da nossa humanidade.
Só aperfeiçoei tal divindade
Para poder sobreviver
Sem passar necessidade.

No palco mundo
Meus colegas de profissão
Fazem rir,
Mas também fazem chorar.

No meu simples picadeiro
Eu só faço rir.
Mas choro
Com os números do
Palco principal.
Palco sarcástico e imoral
Que transforma lindos sentimentos
Em poeira e só.

No meu picadeiro
Eu sou artista
Na arte de fazer rir.
No palco mundo
Eu faço parte
Do público que aprendeu a mentir
Para poder sorrir.

Mas não me confunda com os demais.
Eu represento os palhaços
Que pintam o rosto para viver,
E não os que sujam a alma
E se vendem pra sobreviver.

BrunoricO.

Quarto escuro.

Encontro-me num quarto escuro.
Estou preso aqui!
Não vejo janelas,
Não vejo portas.
Ouço vozes,
Vejo vultos.

Nesse quarto guardo meus tormentos
E minhas lamúrias.

Tenho medo de sair.
Tenho medo de arriscar.
Tenho medo do novo.
Não quero novos desafios,
Novos perigos e novas expectativas.
Não quero frustrações.

Acostumei-me com costumes peculiares.
Tenho hábitos que não quero mudar.
Tenho vícios que fora desse quarto
Ninguém vai aceitar.

Não gosto muito daqui,
Mas por aqui vou vivendo.
Dizem que fora desse quarto existe um mundo
Que as pessoas não gostam,
Mas também vão vivendo.
Então prefiro ficar por aqui.

Brunorico.

Saga Nordestina.

Eis aqui uma pequena e singela homenagem a esse povo bravo e guerreiro do nordeste do meu Brasil que muitas vezes deixa a sua cidade, familiares e amigos para tentar a sorte nas grandes capitais.
Mas infelizmente nem todos conseguem se dar bem na selva de pedra. Nem sempre a saga nordestina tem final feliz.


Saga nordestina parte I.
Terra seca.





No meio da seca
Minha vida seca mais do que a terra.
Olho pro céu e não vejo vida.
Olho pra terra e vejo morte.
O gado morreu,
A colheita não rendeu,
A terra sucumbiu.

Nasci aqui,
Mas não vou morrer aqui.
Assim não!
Não vou morrer seco de esperança.
Aqui já não existe mais vida.
Aqui já não existe mais nada.
Meu nordeste padece de vida.

Arrumarei as malas pela manhã,
Vou-me embora daqui.
Meu coração irá se partir
Como terra seca no sertão.
Mas vou partir.
Aqui o meu brado já não tem eco nem sentido.
Preciso de novos ares.

Vou pra São Paulo,
Dizem que lá tem emprego e oportunidade.
Pior que aqui não pode estar.
Pior do que estou
Não posso ficar.

Vou dormir.

Acordei em mais um dia seco
Em meio a sonhos secos sem um pingo de nada.
Peguei minhas malas,
Peguei meus sonhos.
Não ficou nada para trás,
Somente as lembranças.

Lá vou eu...

Saga nordestina parte II.
Terra fria.




Cheguei moído, corpo dolorido.
Me afogo no cansaço,
Mas tenho que trabalhar
E procurar um lugar para ficar.

Ao procurar emprego
Sinto frieza no olhar do senhor.
Ele me olha com desdém,
Como se eu não fosse ninguém.
Me senti humilhado, avariado, desonrado.
Nunca fui e nunca serei um pobre coitado!
Minha mãe me fez homem,
Cabra macho de muito valor.
Não abaixarei a cabeça
Para nenhum homem
Metido a doutor.

Mas já é chagada a noite,
Não arrumei emprego
Nem lugar pra dormir.
Só me resta a luz da lua,
Só me resta dormir na rua.
Sinto falta da minha rede,
Sinto fome, sinto sede.
Mas preciso dormir.

Acordei com esperança
Hoje eu consigo!

Bati em várias portas e deparo-me sempre
Com a velha frieza do olhar.
Um povo sem carinho
Que vive correndo e não tem amor para dar.
Julgam-me pelas roupas.
Julgam-me pelo meu jeito.
Mas ninguém me conhece direito.
Me sinto como uma máquina com defeito.
Não sirvo pra nada,
Não me querem pra nada.
De fato, eu sou um nada.

Passado um ano ainda estou aqui.
Nada consegui,
Objetivos não atingi
E acabei por desistir.
Hoje moro nas ruas
E só tenho uma amiga:
A lua.

Morando nessa terra fria de almas vazias
Até consigo sentir falta da minha terra seca
Que outrora vivia.

BrunoricO.

O saudosista.

Observo a fotografia já gasta
Pelo ávido tempo
E relembro das coisas do passado.

Lembro da falta de modernidade
Nas cartas que escrevia
Para a amada
Durante a mocidade.

Lembro de como era mais
Simples e bondosa
A vida ainda na pacata cidade.

Lembro das belas e suaves canções
Que sempre ouvia
Em minha radiola de madeira
Nas manhãs que precediam
As tardes corriqueiras.

Lembro dos sonhos infantis,
Dos desejos juvenis
E das coisas que conquistei
E posteriormente perdi.

Lembro dos amigos da infância,
Das doces e sadias
Brincadeiras de criança.

Lembro-me como se fosse hoje
De um tempo distante
Que em nada se assemelha com o hoje.

BrunoricO.

Atrás das paredes.



Queria contar-te nessa minha poesia
O segredo mais inimaginável e sombrio
Que guardo acorrentado
Em minha alma.
Mas reluto com tal confidência,
Pois não confio em ti.
Não confio em humanos.
Haja vista que minha parede
É minha melhor confidente.
Só com ela atrevo-me
A publicar o impublicável.

Minha parede, ou melhor, minha amiga,
Não possui costumes sociais
Nem proferi julgamentos
Preconceituosos sem o julgado merecer.

Por não confiar no que se move
Confidencio-me apenas pras paredes.
E se um dia ela me faltar com confiança,
Saberei que não foi ela,
E sim alguém que se escondia atrás dela.

BrunoricO.

Violão sem corda.


Existem coisas sem sentido.
Existem os que acham sentido
Em viver sem ser sentido.
Tais seres sofrem de profundo desvario.

Será que os loucos
Se enxergam como loucos?

Acho que não.
Se não eles não seriam loucos.

Alias, há sentido na loucura?

Acho que sim.
Se não o são não existiria.

E por falar em são...

O mesmo,
Passou em frente
A um manicômio
E ficou observando
O louco tocando
O seu violão sem corda.

Enquanto o louco
Alegremente tocava,
O são se entristecia
Por não ouvir a canção
Que no louco proporcionava
Imensurável alegria.

Ao chegar em casa,
O são arrancava alegremente
As sete cordas do seu violão.

BrunoricO.

Não tenho cara de poeta.

Certo dia disseram-me
Que não tinha cara de poeta.
Antes de tal julgamento
Pensava eu, que poeta
Precisava ter alma,
E não cara,
Mas equivoquei-me
Por pensar assim.

Descobri que pra ser poeta
É preciso ter cara de tal.
Cara essa que não possuo,
E creio eu nunca vá possuir.

Mas não sou menos poeta por isso.
Não me faço por cara,
E nem por caras me faço abater.
Não escrevo meus versos
Com minha face,
Escrevo-os com meu coração.

E quem meu coração não vê
Diz que não sou poeta.
E ao fitar o olhar em minha face
Ratificam tal afirmação.

Alienação?
Talvez sim,
Talvez não.

Mais uma coisa é certa:
Poeta sem cara
Eu sou de coração.


BrunoricO.