Os canalhas da Mangueira - Capítulo 2.


Os canalhas da Mangueira.
Capítulo 2 – Aprendendo a jogar sinuca.
Este conto possui pitadas – senão o saleiro todo – de machismo, sexo, traição e fetichismo.



Mangueira teu cenário é uma beleza, que a natureza criou...

Tyson caminha pelo buraco quente da Mangueira rumo a mais um dia de trabalho. No bar do Xexéu toca um samba do Cartola, o que deixa Tyson mais animado para um dia de luta, pois o próprio sempre diz que a música é a única coisa que lhe acalma de fato.
O temperamento impulsivo sempre deixou Tyson em situações complicadas, é bem verdade que se ele fosse um sujeito mais sereno, a sua vida seria menos sofrida, mas personalidade é complicado, não se muda assim tão fácil, ainda mais com uma vida difícil, cheia de traumas, como foi a dele.
Tyson é daquele tipo de sujeito que xinga na cara se não gostar de alguma coisa, e não importa quem seja, tanto é que ele está indo para a sua terceira carteira profissional, tantos foram os lugares que ele já trabalhou. Com apenas trinta e dois anos de idade ele já coleciona passagens por mais de trinta empresas; trinta! É coisa pra cacete. O motivo das demissões? Ofensas e desavenças com os chefes, em alguns casos o caô chegou as vias de fato.
Com o tempo, além das empresas se cansarem dele, ele também se cansou das empresas e resolveu por em prática a profissão de pedreiro que seu tio lhe ensinara quando adolescente. Pedreiro tem mais liberdade, geralmente as obras não duram tempos muito longos, e ainda por cima dá pra xingar o patrão de tudo que é nome sem grandes consequências, afinal de contas, obra é o que não falta. E o Tyson é um pedreiro dos bons, daqueles que promete o que cumpre sem grandes delongas. Ele sempre fez obras esporádicas no morro e sempre foi muito elogiado por isso, mas nunca quis levar a sério, até que tomou gosto pela coisa.
Muitas casas do buraco quente têm o suor do trabalho de Tyson, mas ele mesmo sabe que viver de obra dentro do morro em que foi nascido e criado é complicado, afinal, não dá pra cobrar muito, às vezes nem dá pra cobrar, pois tem sempre aquela camaradagem, aquele churrasco, aquele tratamento especial, e isso tudo vale mais do que dinheiro, pelo menos pra ele. Mas como todo mundo precisa de grana pra sobreviver, ele precisou encarar tudo isso de forma mais profissional, e com a ajuda de seu amigo Renato, começou a fazer obras em casa de bacana, e aí sim o dinheiro começou a surgir, além de muitos outros benefícios.
Tudo isso gera uma boa segurança para Tyson, hoje ele ganha bem, não tem rotina, conseguiu até colocar seus dois filhos em uma escola particular e está trabalhando em algo que gosta. Poderia ter coisa melhor? Poderia! As esposas dos patrões.
Desde que começou a trabalhar com obra nos condomínios da Barra da Tijuca, que Tyson faz muito sucesso com as mulheres de lá. Logo nos primeiros meses ele já tinha bastante história pra contar, e quem as ouvia logo com exclusividade era o amigo Renato, que era quem sempre arrumava os clientes para ele.
- Porra, meu parceiro, essas suas vizinhas são piores do que as mulheres lá do morro.
- Como assim pior, Tyson?
- Porra, Renato, as mulheres tem um fogo do caralho, querem fazer coisas do arco da velha, tenho que vir sempre com muita disposição, porque encarar um dia de obra e depois fechar encarando essas piranhas não é pra qualquer um não, isso quando elas não querem trepar no meio da obra.
Aos risos, Renato diz: - Irmão, não sabia que estava nesse ritmo não.
- Pô, é foda, essas mulheres são tudo carente, os maridos só pensam em ganhar dinheiro, vivem na rua o dia inteiro, só falam da empresa, só pensam no trabalho e esquecem que as esposas querem trepar. Todas elas se queixam das mesmas coisas, eu acabo virando um psicólogo, um psicólogo que empurra nelas, essa é a terapia, entendeu?
- Tu é foda, meu parceiro. – diz Renato se contorcendo de rir.
- Depois que eu vim trabalhar pra essas bandas e vi que o ritmo ia ser esse, não contrato nem ajudante, pois iria me atrapalhar, tenho que abraçar tudo sozinho mesmo. Serei eternamente grato por esses contatos que você me arrumou.
- Que isso, irmão, amigo é pra essas coisas. Mas tome cuidado, hein, não quero te ver passando veneno com esses cornos querendo acertar as contas contigo.
- Fica tranquilo, no fim eles acabam gostando da obra mais do que as esposas.
Renato sempre ficava perguntado detalhes das mulheres, até porque ele conhecia a maioria delas. Os maridos, em sua maioria, também eram seus conhecidos, e ele achava muito interessante saber de todos esses podres e depois observar a falsidade dos casais perante a sociedade, todas as esposas posavam de senhoritas decentes, quando na verdade não podiam ver o instrumento de trabalho do Tyson.
Ao contrário dos amigos Emílio, Beto e Renato, Tyson não gosta de arrumar mulher na Mangueira, sua esposa Janaína conhece todo mundo do morro, e certamente ela saberia se ele arrumasse algum rabo de saia diferente, por isso mesmo ele tem medo e só arruma mulher fora do morro. E esta nova profissão caiu como uma luva, pois com seu corpo atlético moldado a muitas batidas de surdo um da Mangueira, o sujeito causa um sucesso tremendo com as mulheres dos ricassos.
A maioria das esposas fica em casa, com o canalha do Tyson fazendo obra logo no quartinho ao lado. Resultado: bola pra dentro da caçapa!
Por falar em bola pra dentro da caçapa... Tyson tem muita história pra contar a respeito dessas obras que faz por aí, quando os amigos se reúnem no AP do Emílio, ele sempre solta alguma coisa. Mas uma história em especial ele não esquece até hoje, história essa que ele intitulou justamente de “encaçapando no buraco alheio”.
Certa vez, Tyson arrumou uma obra em que o dono da casa queria transformar um cômodo vazio em uma sala de jogos. O magnata queria reformar o local e transformá-lo em um ambiente harmonioso, onde os amigos pudessem jogar uma sinuca, um carteado, beber uma boa bebida e jogar conversa fora.  
O trabalho do Tyson era dar vida a obra, que contava com gesso rebaixado, decoração diferenciada, iluminação especial, criação de um pequeno bar todo moldado em mármore; enfim, o dono queria um pedaço de Las Vegas dentro da sua casa, essa era a missão do Tyson, criar uma sala de jogos de arromba. E ele arrombou! Em todos os sentidos.
A obra deveria durar quinze dias, mas acabou durando um mês, não porque o Tyson tivesse sido mole ou atrasado algo, muito pelo contrário, a obra só se estendeu porque a esposa do dono convenceu o marido que mais coisas deveriam ser feitas na casa. E de fato essas coisas foram feitas, ô se foram.
Tudo isso tinha um único propósito: a distinta senhora queria passar mais dias desfrutando da presença do pedreiro da casa.
Quando Tyson arrumava essas obras e logo percebia que a esposa ficava em casa enquanto o marido trabalhava, ele logo imaginava como aquela história iria terminar, e dificilmente o final era diferente do que ele pensava.
Tyson nunca foi bom de lábia, o dom da palavra nunca foi o seu forte, e ele sempre soube disso, por isso mesmo ele falava pouco nesses casos, preferia usar do olhar, achava até mais envolvente, e de fato era. As mulheres ficavam excitadíssimas com o fato de aquele pedreiro sem camisa jogar um olhar fatal sempre que elas passavam, e o olhar do Tyson sempre foi aquele olhar de puto, de canalha da pior espécie. Com o olhar ele sempre conseguia dizer exatamente o que estava querendo, e era justamente isso que colocava fogo no pavio.
Nesta obra da sala de jogos, a esposa se chamava Marisa, tinha 41 anos, mas o corpo era de uma adolescente, moldado a muita academia e suplementos que ela mantinha na estante da cozinha.
O marido saía de manhã e só voltava de noite, e o único filho já morava sozinho, ou seja, ela ficava sozinha em casa, somente com a companhia dos empregados, que em nada lhe incomodavam ou a inibiam de fazer algo.
Tyson foi apresentado a Marisa pelo próprio marido dela, no primeiro dia de trabalho, e logo nesse dia eles já se olharam de uma forma comprometedora, Tyson não sabia exatamente quando iria acontecer, mas ele já tinha certeza que iria rolar algo.
Assim que o marido saiu para trabalhar ela foi conversar com ele, não disse nada demais, nada que a comprometesse, fez questão apenas de ser educada e nada mais.
No segundo dia ela ficava apenas desfilando pela casa, fazia questão de retribuir os olhares que eram dados por Tyson.
Já no terceiro dia a coisa esquentou, era um dia chuvoso, e ela apareceu na obra trajada com um micro vestido de seda, desses de dormir, com a polpa da bunda toda aparecendo. Tyson pensou: “É agora”. Mas não foi; Marisa gostava de instigar, todo aquele jogo de sedução parecia lhe excitar profundamente.
Nos dias seguintes ela fez questão de se exibir cada vez mais, e eles pouco se falavam, mas se olhavam como animais na selva prontos a se devorar. Até que certo dia ela fez questão de abordá-lo da forma mais direta possível.
- Você já sabe o que estou querendo, né? – perguntou Marisa, com a cara mais depravada possível.
- Lógico que sei. – Tyson largou o material da obra no chão e continuou. – E estou aqui pronto pra te dar.
- Hum, que bom, era isso mesmo que eu queria ouvir. Mas ainda não fiz o que quero fazer desde o primeiro momento em que lhe vi, por causa da mesa de sinuca.
- Como assim por causa da mesa de sinuca? Não entendi. – perguntou Tyson, alternando a face de tesão para a expressão de confuso.
- É que sou uma mulher de fetiches, não faço sexo por fazer, e decidi logo no primeiro dia que quero dar muito pra você, mas tem que ser em cima da mesa de sinuca, quero inaugurá-la, abrir os jogos.
- Mas só pode ser na mesa de sinuca?
- Só!
- E quando é que chega essa bendita mesa?
- Ela chega amanhã, e amanhã mesmo ela já será montada, por isso estou passando aqui pra te avisar, quero que esteja muito bem preparado e muito bem disposto amanhã.
Depois de falar isso, Marisa sequer deu tempo para que Tyson falasse algo, ela apenas deu as costas, soltou um discreto “até amanhã” e deixou o pobre pedreiro ali, louco de tesão, ansioso pelo dia de amanhã.
Neste mesmo dia, Tyson ligou logo para o amigo Renato, fez questão de dizer que iria traçar mais uma madame. Renato pediu para que o amigo contasse tudo depois do feito, e eles marcaram de tomar um gelo amanhã mesmo, logo após o ato.
            No dia D, Tyson fez questão de tomar um café da manhã reforçado, sequer tocou em sua esposa Janaína, na noite anterior - queria guardar cartucho - e desceu o morro bem animado. Deu um caloroso “bom-dia” para o amigo Xexéu do bar, e partiu rumo à missão.
            Chegando à residência ele trabalhou normalmente enquanto os montadores da mesa faziam o seu trabalho.
            Ao final de tudo, a mesa estava prontinha, assim como Marisa, que surgiu deslumbrante em uma lingerie vermelha; logo vermelho, a cor preferida de Tyson, que foi logo agarrado e jogado em cima da mesa.
            Marisa era o tipo de mulher que gostava de um sexo agressivo, foi logo estapeando Tyson, que não se fez de rogado e também partiu para os tapas e puxões. Mas ele tinha que medir a força, pois certa vez, no ápice do tesão, ele desmaiou uma mulher, e dessa cena ele nunca esquece, e por conta disso ele aprendeu a dosar a agressividade. Tyson batia na medida certa, Marisa ficou louca em cima daquela mesa, teve inúmeros orgasmos como há muito não tinha, afinal de contas, uma mulher carente sempre deseja encontrar um homem que lhe sacie na medida certa, na medida em que ela esperava, e Tyson fez muito mais do que isso.
            Os dois transaram interruptamente e alucinadamente por uma hora e alguns minutos. Marisa estava exausta de tanto prazer, estava em êxtase, até que se deu conta de que alguém poderia chegar e resolveu parar, a contragosto, mas parou. Tyson a puxava como um animal no cio, parecia até que tinha começado a transar naquele exato momento. Ela pediu para que ele voltasse para a obra e avisou que continuaria amanhã.
            Aquele foi o dia mais produtivo de Tyson, que fez o trabalho de dois dias em apenas um.
            Ao final do expediente ele foi beber com Renato, que já havia contado a novidade para os demais canalhas, que se reuniram para ouvir mais uma peripécia de Tyson, que contou absolutamente tudo, nos mínimos detalhes. Renato, Beto e Emílio riram bastante nesse dia, até porque a forma com que Tyson contava era única, e quando ele estava animado, ninguém o segurava.
            No dia seguinte, Marisa estava com um sorriso cintilante estampado na face, parecia modelo de creme dental, era notória a sua alegria, que só se renovou com mais uma trepada arrasadora em cima da mesa de sinuca.
Assim eles seguiram por longos dias, sempre em cima da mesa de sinuca. Marisa fez questão de comprar lingeries para cada dia de transa, Tyson seguiu com o  taco afiado, encaçapou diversas bolas até o término da obra.
Hoje a sala de jogos está pronta, os amigos bebem e se divertem com o belo lugar que foi criado. Marisa sempre sorri quando olha para a mesa, além de lembrar até hoje com felicidade das tacadas dadas por Tyson.
Depois dessa obra, Tyson tomou gosto pela sinuca, que antes nunca havia lhe atraído. Sua esposa Janaína não entende até hoje por qual motivo, da noite para o dia, seu marido passou a perder horas e horas do dia no bar do Xexéu, jogando sinuca e ouvindo Cartola.

Bruno Rico.

Aguarde pelos novos capítulos, pois os canalhas da Mangueira possuem muitas histórias pra contar. 

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