O amor como meio de sobrevivência.






Todos os dias ele recebia
Uma rasteira diferente,
Certo dia cansou-se de só cair,
E preferiu cansar-se de tanto pular,
Pulou tanto, mas tanto,
Que alcançou o céu,
E ao pisar na terra novamente,
Rasteira nenhuma se fez valente
Diante daquele exímio saltador celestial.

O amor nunca fora o seu forte.
Tantas foram as desilusões,
Tantas foram as lágrimas
Que irrigaram as flores funestas
De um jardim de desilusão.
A dor de não se sentir amado
Chegava a lhe corroer as vísceras,
Logo ele, que tinha tanto amor para dar.
E eis que um dia ele resolveu amar tanto,
Mas tanto, que seu coração chegou a esvaziar-se.
Amou a todos, sem distinção,
Distribui sorrisos gratuitos,
Gentilezas sem recompensas,
Abraços sem pudores,
Virou um bom vivant de estirpe,
E enfim encontrou o seu verdadeiro amor
Refletido em um espelho carcomido,
A partir dali, o desamor jamais bateu a sua porta.

De fato a vida não lhe deu os melhores acordes,
Mas mesmo assim ele fez música,
Das mais lindas de se ouvir,
Daquelas em que o som é carregado de emoção
E a melodia é enraizada na paixão.

Certo dia, perguntaram-lhe o porquê do sorriso
Fazer morada de forma fixa em sua face,
E com um semblante terno ele respondeu:
É que tenho o amor como meio de sobrevivência.

Bruno Rico.


Mente nua, carne crua.




Despiu-se da sorte. 

Arrancou os anseios 
que lhe foram impostos.

Rasgou o lenço que lhe enforcava
e a impedia de dizer verdades.

Ficou descalça,
quis sentir o chão de terra.
Sentiu-se leve,
a tal ponto
de querer voar.

E assim ela seguiu...
Nua,crua,
pronta para moldar-se
por si própria,
e enfim,
viver de verdade. 


Bruno Rico.