Mensagens de fim de ano.

Para esse final de ano eu gostaria de deixar duas poesias que eu gosto muito, e que acho perfeitas para esse momento de final de ano.

Que 2012 seja muito melhor que 2011 para todos nós.

Hasta.


Cortar o tempo - Carlos Drummond de Andrade.

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
A que se deu o nome de ano,
Foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança,
Fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano
Se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
Com outro número e outra vontade de acreditar
Que daqui pra diante vai ser diferente.


Novos dias - Sérgio Vaz.




A idade da pedra.


Vivo sem a luz na retina,
Quem fita o olhar em um saco de lixo
E depois olha para mim, até diz que a gente combina.

Estirado no chão como um dejeto social.
Sou novo, mas a pedra carregou com ela
A minha face jovial.

Meus sonhos, ainda nem sei se estão na gaveta,
A última vez que os vi, perambulando por aí,
De certo eu estava careta.

Às vezes de mim eu tenho dó,
Isolo-me eu meu mundo ermo.
Às vezes me sinto volátil que nem pó,
Sinto que estou a cada dia mais enfermo.

Não tenho idade para votar,
Mas posso fumar,
Não tenho idade para trabalhar,
Mas posso roubar,
Não tenho certeza ao certo do que preciso,
Mas sempre que acordo eu sinto falta de um sorriso.

Bruno Rico. 

Grite quando lhe pedirem silêncio.



Esta poesia é um grito.
Um grito de um poeta profano
Que acha que tudo que é noticiado na televisão é mentira.

Um grito de um ser que de tanto se emudecer
Acabou ficando louco sem querer.
Quando digo louco,
Quero dizer daqueles que já não aceita regras,
Já não aguenta mais chamar ninguém de senhor,
Já não vota, já não crê, já duvida de tudo que lê e que vê.

Sabe aquele trabalhador de sol a sol,
Que tenta fazer o máximo do salário mínimo,
E que não ouve um “por favor” o dia todo?
Esta poesia é o seu grito!

Sabe aquela senhora que mora no alto da colina,
De pele escura, face amarga,
E que sozinha tem que sustentar seus filhos?
Esta poesia é o seu grito!

Sabe aquele paraplégico
Que tenta fazer um simples passeio pela rua com sua amiga de duas rodas,
Mas anda desmotivado,
Pois o seu percurso mais parece uma trilha na selva,
Já que inúmeros são os seus obstáculos perigosos?
Pois então, esta poesia também é o seu grito!

Grite ao mundo os seus dissabores,
O eco de sua voz poderá trazer a cura das suas dores.

 Bruno Rico.

FRASE #1



A vida às vezes parece sem esperança,
E a esperança às vezes aparece sem vida.

Bruno Rico.

Ciclos.


Às vezes um sorriso pode alegrar uma vida.
Às vezes um "muito obrigado" pode valorizar uma vida.

Às vezes um abraço pode acalentar uma vida.
Às vezes um "você é especial" pode abrilhantar uma vida.

Às vezes um beijo pode mudar uma vida.
Às vezes um "eu te amo" pode valer uma vida.

Sorria mais, abrace mais e beije muito mais.
Vai que às vezes você ouve algo do tipo:
Muito obrigado, você é especial, eu te amo!
Bruno Rico. 

Nada mais me serve.


Meu chapéu não serve mais para
Abrandar a fúria do sol em minha face.

Minha fé já não me salva
Da nuvem pessimista que paira sobre mim
Parecendo querer molhar-me com as águas frias da solidão.

A justiça dos homens já não me parece mais necessária,
Tendo em vista que ela é totalmente precária,
E a justiça divina também não me apetece,
Pois só vejo benção bater na porta de quem não merece.

O calçado que era o meu preferido
Hoje não me serve mais
E vive em baixo da cama,
Acuado, desbotado e escondido.

A roupa que eu mais gostava
Parece não gostar mais de mim,
A ponto de negar-se a acolher o meu corpo,
Antes envolto em suas linhas de cetim.

A mulher que ontem regava-me com amor,
Hoje deixou murchar a flor que lhe dava valor,
Dando lugar a um jardim
Que nunca mais germinou com o velho vigor.

A bandeira que antes eu defendia,
E tremulava com pujança,
Hoje está rasgada e jogada no porão,
Refletindo o retrato mais fiel do meu mundo sem esperança.
Afinal, nada mais me serve,
Nem mesmo os meus sonhos de criança.

Bruno Rico.


Eis o retrato pessimista do reflexo turvo da vida. Fazia tempos que não escrevia com tanta melancolia e desesperança, para um poeta altamente crítico isso é sempre bom, sinal de que o tino de esmiuçar o que poucos preocupam-se em pensar não se perdeu.

As linhas acima representam a mais pura arte, a arte de se colocar no corpo do mais inútil dos homens e fazer com que tamanha inutilidade seja cuspida em poesia.
A minha poesia muitas vezes se consiste em viajar e interpretar um mundo que nem sempre é o meu, e o escrito “Nada mais me serve” é mais um desses, afinal, eu sequer uso chapéu.




Coisas simples.

Quando estou com você
Vejo que a felicidade faz morada nas coisas simples.
Quando estou com você vejo
Que ainda não criaram uma frase
Que valha mais do que o "eu te amo",
Pois quando criarem tal frase,
Será esta que eu falarei
Toda vez depois de respirar.

E por falar em respirar...
Teu ar me impulsiona
A voar para o infinito de um universo
Que antes eu desconhecia, mas que aprendi a admirar
Através das suas retinas,
Que quando me fitam
Refletem a luz de um homem totalmente apaixonado
Que é capaz de comprar um barco
Para velejar e dar a volta ao mundo,
Só para depois voltar
E poder dizer com toda veemência,
Que não existe mulher melhor do que você.

Mas eu não preciso ir aos quatro quantos do mundo
Para saber que o meu mundo é você.

Aliás, eu não preciso de nada muito complexo
Para mostrar que te amo,
E para que você entenda que a minha vida
Sem ti já não tem mais nexo.

Você me mostrou que ao seu lado
A felicidade mora nas coisas simples,
Bem simples.


Bruno Rico. 

Dedicado a ela.

Peixes cegos.

Imagine o mundo como um imenso mar.
Imagine a civilização como
Uma imensidão de peixes.

Temos assim um cardume cego
Navegando num mar imundo.
Cardume esse, que além de cego,
Apresenta peixes que
Ainda nadam sem rumo.

O rumo que era pra ser traçado
É totalmente ignorado.
O nado que era pra ser diversificado
É totalmente sincronizado.
Todos agem em grau de igualdade
E nadam igualmente rumo ao nada.

Sendo assim...
Todos morrerão
Mordendo o mesmo anzol.

Bruno Rico.

Oração deísta.

Ao que me dá força.

Ao que me guia tão livremente,
A ponto deu achar que estou caminhando
De forma independente.

Ao que me envaidece,
Mesmo sendo pecado.

Ao que me ampara,
Mesmo eu estando totalmente errado.

Ao que carrega a minha cruz
E me direciona sempre para um caminho de luz.

Ao que sempre me diz:
“Meu filho tu és especial.”
Mesmo nos momentos
Em que eu me sinto fora de eixo
E chego até a me achar anormal.

Ao que vê meu choro
Enquanto os mortais acham que eu estou sorrindo;
Ao que valoriza-me pelo que realmente sou
Sem se importar com o que estou vestindo.

Ao que me dá esperança quando
Eu acho que já não dá mais.

Não sei seu nome,
Morada, cor, muito menos feição.
Não sou seguidor de dogmas
Rituais, sequer tenho religião.

Mas a Ele, eu entrego os anseios meus.
E a esse meu amigo que livra-me sempre do perigo
Eu chamo carinhosamente de Deus.

Bruno Rico. 

Rotineiro mundo vetusto.

Tudo anda muito igual;
Minhas poesias,
Meus amores,
Meus desejos,
Meus sonhos,
Meus medos,
Minhas certezas e minhas dúvidas.

Preciso que a magia da diferença
Encante meus dias
Com novos anseios
E perspectivas.

Preciso destroçar as linhas já escritas,
Preciso queimar as cartas que o destino me enviou.
Preciso quebrar a janela
Que insiste em mostrar-me uma paisagem sempre análoga.
Necessito urgentemente
Descabelar a rotina
Ao ponto dela não ter
Mais como voltar ao mesmo penteado.

Não rejeito o tédio,
Todos precisam dele para viver,
Mas careço de um tipo de tédio mais hodierno,
Daqueles que até podem ser repetitivos,
Mas também podem ser motivadores e emocionantes.

Bruno Rico.

Parábola taoísta pt.1 - Viver como as flores


Hoje darei início a exposição de algumas parábolas taoístas que gosto muito, me ajudam a refletir bastante, e já me ajudaram de inspiração para muitas poesias. O mundo precisa refletir mais, muito mais. Vamos dar um tempo para nós mesmos.
E nunca se esqueça: Sabedoria vale mais do que inteligência.


Viver como as flores.  

Um dia um discípulo perguntou a seu mestre:
-Mestre, como faço para não me aborrecer? Algumas pessoas falam demais, outras são ignorantes. Algumas são indiferentes. Sinto ódio das que são mentirosas. Sofro com as que caluniam.

-Pois viva como as flores! Advertiu o mestre.

-Como é viver como as flores? Perguntou o discípulo.

-Repare nestas flores - continuou o mestre apontando os lírios que cresciam no jardim. - Elas nascem no esterco, entretanto são puras e perfumadas. Extraem do adubo malcheiroso tudo que lhes é útil e saudável, mas não permitem que o azedume da terra manche o frescor de suas pétalas.

-E como eu aplico isto, Mestre?-curioso perguntou o discípulo

-É justo angustiar-se com as próprias culpas, - prosseguiu o mestre- mas não é sábio permitir que os vícios dos outros o importunem. Os defeitos deles são deles e não seus. Se não são seus, não há razão para aborrecimento. Exercite, portanto, a virtude de rejeitar todo mal que vem de fora. Isso é viver como as flores.

Corre que ainda dá tempo.


Não fique parado!
Mova-se mesmo que seja rumo ao chão,
Beijar a lona não é sinal
Do fim de uma luta,
Aproveite que o adversário
Pensa que você está acabado
E acabe com ele!

Não tenha medo da queda,
Não tenha medo de perder,
Não tenha medo de ter medo,
Isso é normal,
O medo sempre impulsionou grandes vencedores.
Mas não queira vencer nada,
Pois uma vitória
Quer dizer que uma guerra acabou,
E ela nunca acaba.
Ao invés de querer vencer,
Queira apenas soltar
Um largo e sincero sorriso
Ao final de uma árdua batalha,
Depois você me diz
Se isso não é a verdadeira vitória.
E por falar em sorriso...
Sorria mais,
Experimente doar
Um sorriso cintilante para alguém que sequer imagina
Que alguma coisa ainda brilha nesse mundo.

Se você incomoda alguém
É sinal de que você é importante,
E se você não incomoda ninguém
É sinal de que você também é importante,
Mas, além disso, é sábio,
Pois não serás alvo da famigerada inveja.

Não cultive desafetos,
Não queira que queiram a sua vida,
Mostre aos invejosos
Que você não tem uma vida perfeita,
E que nem quer ter,
Eles entenderão o recado
E darão uma ênfase maior a própria vida,
Que é o que eles sempre
Deveriam ter feito.

Seja falso com os falsos se for preciso,
Mas aos verdadeiros, doe-se por completo.
Sobre isso eu posso alertar:
Nunca confie em quem não lhe olha nos olhos.

Procure viver sem
Se julgar um ser de grande importância,
A partir daí você verás
O quanto é valioso.

Pule, dance, corra, arrisque,
Emudeça-se e depois grite,
Tente tudo que ainda não tentou,
E se algo parecer monótono,
Faça uma coisa simples: agite!

Não tema uma onda gigante
Só porque sua prancha é pequena,
Surfe com a alma,
Agigante-se diante da onda que
Insiste em lhe amedrontar,
Se preciso deixe o mar te levar,
Com certeza ele te guiará
Para um belo e magnífico lugar.

Não tema amores novos
Pelos traumas causados
Por amores antigos,
Pois amores antigos
Não foram amores, no máximo paixões,
Pois amor de verdade nunca é antigo, é eterno.
Ame o novo como se fosse a primeira vez,
Vai que de fato é realmente a primeira vez?
Se você ficar com medo
Vai morrer achando que amor
É aquela coisa pífia que te fez sofrer e chorar no passado.
Nunca ache que seu coração já viveu de tudo,
Deixe que ele te mostre
O poder do novo,
Mesmo que para você pareça velho.

E quando finalmente o seu coração
Se cansar de tentar qualquer coisa,
Ele irá avisar, e você certamente saberá,
Mas infelizmente não poderá fazer mais nada,
Pois ele irá parar de bater,
Não bombeará mais sangue, muito menos sentimentos
Para suas veias.
Mas enquanto isso não acontece
Faça tudo que for possível fazer,
Só não faça o que o primeiro verso disse:
Não fique parado!

Bruno Rico.

Eu escrevi isso tudo para lhe dizer que ainda dá tempo. De quê? Não sei, me diz você.

Poesia evasiva.





Existem certos pensamentos e palavras

Que o melhor a se fazer é guardar para si.

E é justamente por esse motivo,

Que nesta poesia – pelo menos nesta.

Eu não escreverei mais nada,

Simplesmente nada.


BrunoricO.