Cá entre nós.


Vamos fazer valer a pena,
Seja lá o que for,
Mas façamos valer a pena.

Sejamos o que falamos,
Falemos e o que pensamos,
Pensemos no que sonhamos
E sonhemos com o que valha a pena.
Mas é o a pena do interno,
Nunca do externo,
Não deixe que outros sonhem por você.
Não se perca nos labirintos
Fúteis de outrem.
Se apeteça, se reconheça,
E por fim, se mereça.

Esteja sempre pronto
Para as chuvas que tanto pede e espera.
E se por ventura não vier a chover,
Faça você mesmo sua chuva,
Peque a mangueira do jardim
E espirre água para o céu.
Banhe-se, renove-se,
E aproveite a chuva criada por ti.

O teu sonhar é o teu viver,
Viva com voracidade.
Seus pensamentos impulsionam
A sua felicidade.
Portanto corra!
Mas cá entre nós,
Se for rápido ou devagar,
Faça tudo valer a pena.

BrunoricO.

Dónde estás la revolución?


Para onde está caminhando
Toda essa gente
Com cara de demente,
E pensamentos inconsequentes?

A rua está sombria e apagada,
E ao longe não se avista mais nada,
Sequer uma luz foscamente desalentada,
Mas eles insistem em caminhar
Por esse percurso torpe e indecente.

Procuram incessantemente
Pelo propósito reluzente
Que não brilha sequer
Diante da visão mais pura e indulgente.

Eis o problema:
A busca é descabida e incoerente.
Os que acenam bandeiras brancas
São os mesmos que promovem
As guerras desse mundo imprudente.

Mais uma vez eu pergunto:
Para onde está caminhando
Toda essa gente de propósito já inclemente?

Multidão incoerente!
Gente que passa por cima de gente
Por se achar onipotente!

Mas cadê ele?
É, ele mesmo;
O sujeito com a faixa transversal
Verde e amarela no peito
Que alguns chamam de presidente.

Estou farto de discursos incondizentes.
Não quero mais ouvir falácias
Infames e inconvenientes.
Não quero mais ver o miserável
Migrar para a pobreza
Enquanto o rico enriquece
Na velocidade da luz
À custa de um povo desprovido de nobreza.

Quero ação,
Passeatas em prol da reação,
Faixas gigantescas com escritos
De abaixo a repressão.
Quero um Che em cada esquina
Gritando
Viva la revolución!Mas creio que morrerei
Sem vivenciar tal situação.

Onde estão as mentes pensantes
Do século passado?
Aquelas mesmas que pareciam-me mais coerentes
Do que as cabeças acéfalas do tempo presente.

Onde estão os jovens dessa nação?
Aqueles que se diziam revolucionários
E que em outros tempos lutavam
Por uma pseudo-libertação.

De certo envelheceram,
E perderam o nobre
corazón.
Por isso mais uma vez eu pergunto:
Para onde vai toda essa gente?
E dónde estás la revolución?
BrunoricO.

Esboço poético desvairado.


Deixarei as palavras fluírem.
Para onde não sei,
Talvez para o universo
Introspectivo de alguma
Mente doentia
Que goste de ler garatujas.

Escreverei em rascunhos,
Mas não os rasgarei mais,
Pois já gastei papéis por demais.

Aliás, quem foi o desvairado
Que disse que rascunhos
Precisão ser rasgados?
No rascunho encontra-se
A alma que o poeta mesmo
Desconhece ter – pois ele não a vê.
Nos rascunhos vemos os
Cuspes poéticos
Que passaram despercebidos
Nas palavras escritas com doçura.

Antes de fazer o mundo,
Com certeza o criador
De tal manicômio,
Usou um rascunho,
Pena não tê-lo usado.

Brunorico.


Não podemos ignorar os rascunhos de nossas vidas, linhas importantes podem ter passado por lá sem terem sido notadas.

Acioli - Nada a declarar.

O que sobrou dos urubus.


Eles já se acostumaram
Com a minha presença.
De início fiquei com medo
De ser visto como um invasor,
Pelo fato de entrar
Sem pedir licença;
Fiquei temeroso de serem rudes,
Mas felizmente não apresentaram
Qualquer tipo de resistência.
Agora que os anos já se passaram
Até eles também aprenderam a me tratar
Com total indiferença.

Eles comem junto comigo;
Comem do que eu como
E vivem onde eu sobrevivo,
Mas geralmente
Eles comem primeiro
Do que eu,
E até chegam a viver
Melhor do que eu vivo.

O resto deles
É o que me resta de refeição.
Às vezes sinto-me envergonhado
Diante dessa triste situação,
Mas se não fosse isso
Certamente eu morreria de inanição.

Na atual conjuntura dos fatos,
Comer o que sobra
Dos urubus é a minha única salvação,
Mesmo que minha alma
Já esteja em total
Estado de decomposição.
Às vezes chego até a pensar
Que vim ao mundo
Só para viver nessa triste condição.
Será que eu nasci em vão?
Ou pior: será que vim ao mundo
Só para passar humilhação?
Não, não!
Recuso-me a acreditar nessa
Quase afirmação.
Mas estou cansado de viver
Abaixado catando grão.

Infelizmente o que me resta
É catar no chão
As migalhas da minha vida
Já despedaçada pela
Falta de dignidade.
Mas seguirei olhando para o céu,
Pedindo a Deus encarecidamente
Um pouco mais de igualdade,
E que ele possa devolver um dia desses
A minha já esquecida hombridade.

BrunoricO.

Onde estão as flores?


A rua está cheia de pedras.
Antes existia um jardim por aqui.
Não vejo sequer sementes
Jogadas no chão,
Até os pássaros sumiram
No meio da amplidão do nada.

A trilha ficou pungente
Para toda essa gente
Que por aqui
Sempre caminhou alegremente.

Antes o caminho era
Harmonioso e jocoso,
Agora não passa de um
Percurso mais do que penoso.

Antes as flores ajudavam
A amenizar a solidão das pedras,
Que sempre estiveram por aqui,
Mas nunca fizeram ninguém sorrir.
BrunoricO.