Um brinde aos opositores.


Quando estiveres a chorar
Pense na alegria.
Quando estiveres a sorrir
Pense na tristeza.
Nada tem valor sem o oposto.
Nenhum sentimento tem valor sem o seu opositor.

Muitos se sentem seguros com a luz,
Pois repugnam a escuridão.
Se a escuridão um dia se extinguir
A luz já não terá mais valor.

Se ninguém adoecesse que serventia teria a cura?
Se nunca chovesse
Todos achariam o sol entediante.
Se todos concordassem comigo
Minhas palavras não teriam sentido.

Ninguém apreciaria o calor se não conhecesse o frio.
Ninguém apreciaria a paz se não conhecesse a guerra.
Quem vive sem o oposto acaba não sabendo viver.
Quem vive sem o oposto acaba se opondo à vida.

E aos que se opõem a mim e aos meus ideais
Eu peço um brinde.
Pois sem vocês eu não seria nada.


BrunoricO.

Zumbi dos tempos modernos.

Possivelmente já não será
Mais meu o eu que tanto querem mudar;
A tentativa incessante de usurpar o eu meu
É traçada por planos maquiavélicos
Que minha alçada não consegue alcançar.

Querem que eu carregue minha carcaça
Para que minha alma seja acarinhada em massa
Pelas personificações desregradas.

A sorte é que tenho meu calcanhar de Aquiles
Cravado em outros pés,
Os mesmos que querem
Caminhar sobre o meu corpo
E que ao balbuciarem palavras
Internamente instintivas
Causam-me profundo desgosto.

Sendo assim, não serei eu
O mutável que tanto sonham,
Pelo menos não dessa vez,
Já que não caminharei com passos meus.
Nas areias ficarão as pegadas de um usurpado
De alma expelida e essência imutável.
Quem fitar o meu olhar
Dirá sem pestanejar
Que sou o primeiro zumbi impopular.
BrunoricO.

São culpados os inocentes.


Dedos apontados, desejos negados, direitos ultrajados.
Assim cresceu o anti-herói
Que tinha o poder de nunca ser visto,
E mesmo assim, por onde passava
Ainda não era bem quisto.

Nosso anti-herói cresceu sem pai, pra variar,
Sem mãe presente pra educar,
E ao longo de sua vida
Nunca conheceu o significado da palavra lar.

O seu poder, o de ficar invisível,
Não era expelido por ele,
E sim pelos que se recusavam a tê-lo por perto.
Em alguns momentos ele chegou a ficar incerto
Se sua existência física realmente existia,
Já que a maioria fingia que não o via,
E quem assim fazia costumava usar
Da demagógica hipocrisia.
Para eles, o pequeno vilão não possuía
Nenhuma valia,
Pelo contrário, estava numa irreversível avaria.

Até que com o tempo o dano tornou-se realmente
Irreparável, pois o nosso anti-herói
Tornou-se definitivamente um ser nada sociável.

Aliciava pra roubar.
Roubava pra se drogar.
Se drogava pra se encorajar.
Até que se encorajou a matar.
Pronto!

Todos que o apontaram,
Todos que o renegaram,
Todos que o insultaram,
Todos que não o enxergaram,
Todos esses estavam com um único
E imensurável sentimento:
O de dever cumprido.

BrunoricO.


Vivemos num mundo onde já não existem culpados, muito menos inocentes, todo ser humano é culpado pelo bem que não fez.

O ilusionista.

Nasce um frio na barriga
Quando a poesia me seduz
E me induz a transcrevê-la
Em folhas de papel
Para o leitor deleitar-se
Em sinceros versos
Escritos pelo mentiroso poeta.

Mentiroso sim!
Pois não seria poeta
Se fosse sincero a todo tempo,
Sendo que o próprio tempo
Não é verdadeiro comigo.
Se ao escrever só falasse verdades
Seria o escritor mais chato da humanidade,
Pois só os chatos falam verdades
O tempo inteiro.

Não é contradição
Escrever verdades sendo mentiroso
Ou escrever mentiras sendo verdadeiro,
Tais casos são mais do que corriqueiros.
Além de que, precisamos mentir
Para sermos ouvidos
Com real clareza.

Não fomos criados para verdades,
Fomos criados para iludir a própria
Ilusão que nos foge da razão
E tragicamente se transforma em realidade.
Concluo então que fomos criados para poetizar,
Pois o poeta é sim, o maior dos ilusionistas.

Sendo assim,
Poetizarei minhas mentiras
E execrarei minhas verdades.
Eis o lema do ilusionista,
E eis o maior lema da humanidade.


BrunoricO.